Billings Viva – Cap. 7, 8 e 9

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7 – Billings viva 

 • Billings Viva?! 

 • Billings Viva… 

 • Billings Viva!!! 

• Billings Viva

(ver Anexo IX)  

“O fluxo de pescadores é sempre grande. Mas eu nunca vi igual a esse ano! Não sei se melhorou a população de peixes da represa. Porque peixe tá pegando bem. Não sei se foi isso que atraiu tanta gente!  Ou se foi a situação econômica, o desemprego,… Nunca vi tanta gente assim margeando a represa, como agora! Nunca vi igual! Muita gente!”  

(Márcio – Bar Flutuante – abril/91)  

 “Os peixes constituem um barômetro muito útil do real estado de pureza de uma água. Nenhum corpo d’água pode ser considerado em condições satisfatórias se nele não viverem e proliferarem peixes”.  

(Turing-Produtos de pesca … opus citado) 

Morto está o Tamanduateí, afluente do Tietê. E sua agonia teve início já no começo deste século. Segundo o Prof. José de Souza Martins (que conhece como poucos as coisas do ABC) a preocupação com a poluição do meio ambiente na cidade de São Paulo empurrou as indústrias químicas, as altamente poluidoras, para a região do ABC. Mais especificamente São Caetano e Santo André. Longe da ”urbe”. O Tamanduateí passou a receber os rejeitos letais destas indústrias, e das que vieram na sequência. Passou a contribuir com a cadeia poluidora e veio à “urbe“, em nome da região agredida, devolvendo o desaforo feito, dar um abraço fatal no, já combalido, Tietê.  

Em todo o seu percurso, desde a nascente, não se nota hoje o menor sinal de vida. E dele pouco se tem falado. Morto está o Tietê. Mas somente em sua passagem pela região metropolitana. A vida, totalmente ausente neste trecho do seu percurso, continua a habitar suas águas antes e depois do mesmo.  

A luta pela sua recuperação, desencadeada e encabeçada pela Rádio Eldorado, vem ganhando cada vez mais aliados. E significativas batalhas. De forma positiva e sem esmorecimentos. Tietê, rio que pede água, é hoje, manchete diária.  

Morto está o Pinheiros. Parte em consequência do recalque das águas do Tietê. Mas também pelas numerosas agressões que sofre durante o seu pequeno percurso. Para se ter uma ideia, basta fazer uma viagem de 20 minutos pelo ramal da Ferrovia Paulista que o margeia a partir da Estação Jurubatuba. Como nos anteriores não se nota o menor sinal de vida em suas águas.  

Ao ser formado o reservatório do Guarapiranga (1906-1909), mais conhecido como Represa de Guarapiranga, com a finalidade de provisionar águas para a usina Edgard de Souza, das cláusulas de concessão constava que o mesmo deveria servir, também, ao abastecimento de água potável da cidade de São Paulo. Estava estabelecido que das águas armazenadas o governo poderia retirar, para este fim, 4m3 de água por segundo. À época, águas puras.  

A preocupação com a qualidade das águas do Guarapiranga cresceu, na década de 20, com as discussões do Projeto da Serra. Sobretudo com a possibilidade de recalque das “sobras de águas do Rio Tietê” para o reservatório do Rio Grande, já em formação. Esta preocupação ficou consolidada nas cláusulas aprovadas pelo Governo do Estado em 27 de dezembro de 1927 através do Decreto 4.487.  

Dentre elas constavam: 

   XXXVI – O governo poderá retirar do reservatório do rio Guarapiranga, em Santo Amaro, e de alguns cursos da vertente marítima, que convenientemente represados venham a tornarem-se tributários deste reservatório, uma quantidade de água até quatro metros cúbicos por segundo para auxiliar o abastecimento de águas potáveis da capital independentemente de qualquer compensação.  

   XXXVII – A companhia não poderá lançar águas do rio Tietê no reservatório do rio Guarapiranga, nem nos reservatórios que sejam tributários deste, enquanto ele servir ao suprimento de águas potáveis à capital, obrigando-se, outros sim, a manter naquele as atuais condições de saneamento.  

Hoje o reservatório está seriamente ameaçado. Envenenado pelo lançamento, em suas águas, de esgotos não tratados, provenientes de loteamentos clandestinos, de falta de planejamento, de invasões, desmatamentos e ocupações na área de suas nascentes. E nunca recebeu águas do Pinheiros e Tietê.  

Continua a ser a principal fonte de captação para o abastecimento de água da Cidade de  

São Paulo. Virou manchete dos diários pelos constantes aumentos de certo tipo de algas em suas águas. Ganhou também um grupo de defesa, intersecretarial (SOS-GUARAPlRANGA), que vem apresentando excelentes resultados no controle dos loteamentos e lançamentos de esgotos.  

Em suas águas, ainda hoje, podem ser capturados, com facilidade, tilápias e lambaris. Não se pode fazer um diagnóstico da Billings como um corpo único. Há dois blocos a serem considerados. E não é difícil constatá-lo nas declarações de ambienta listas da região, bem como em algumas posições da Eletropaulo. De um lado ternos o Compartimento Pedreira (que se situa da Barragem de Pedreira em Santo Amare até a Barragem Anchieta, no Riacho); de outro, os rios – também conhecido por braços – Grande, Bororé, Taquacetuba, Capivari e Pequeno e o Reservatório do Rio das Pedras.  

A situação no compartimento Pedreira é bastante calamitosa:  

–  ponto de desague do bombeamento dos rios Pinheiros/Tietê, portanto com grande concentração de poluentes, sobretudo entre Pedreira e Eldorado;  

–   a possibilidade de contato com a água é zero;  

–   somente tilápia, peixe mais resistente à poluição na Billings, consegue habitar este nicho na época das águas (chuvas, cheias); sendo totalmente impróprias para o consumo.  

–   o mau cheiro exalado pelas águas é insuportável, aflige a população circunvizinha e com a inversão dos ventos, chega a afligir os habitantes do Botujuru, já perto do Riacho.  

–   frequentemente nem as tilápias resistem e então ocorre grande mortandade de peixes.  

–   os peixes mais sensíveis desapareceram deste compartimento há bastante tempo;  

–   um indicador bastante simples do nível de poluição desta parte da represa é a presença de pescadores: nula na direção do Eldorado e adensada nas proximidades do Riacho Grande até a Balsa João Basso.  

Entretanto, os pescadores aficionados, de anos de tarimba, já há algum tempo vêm se distanciando deste último trecho citado. Seja pela desconfiança das águas, pela concentração de gente pescando, ou mesmo pela impossibilidade de captura de peixes diferenciados.  

Com relação aos rios, estes são tributários do sistema. Ou seja, deságuam na represa. Com exceção do Rio Grande, quase todos os outros têm suas nascentes em áreas pouco ou nada povoadas – portanto, sem lançamento de esgotos e desmatamentos. São eles os locais em que são encontrados, hoje ainda, peixes diferenciados: carpas, traíras, cascudos, bagres, piaus, lambaris.  

José Miguel Farnes, presidente da Associação dos Pescadores Profissionais da Billings, diante de um repórter do Diário do Grande ABC, tomou água da cabeceira do Capivari.  

“Meia hora de barco é o suficiente para sentir que existe outra represa na Billings, aquela que esconde as belezas. Rumo ao Capivari, reduto dos pescadores da represa, a água vai ficando mais limpa. Ao cruzar com cardumes de peixes, os visitantes mais desavisados podem se assustar. Agitados com o barulho, eles pulam de um lado para outro e podem até cair dentro do barco. (…) Após uma hora e meia de viagem, chega-se ao reduto dos pescadores. Para provar que não há poluição, Farnes toma um pouco de água”.  

O Rio Grande é o principal contribuinte da Billings. A formação da represa, como já foi dito, deu-se pelo represamento de seu curso, formando o Reservatório Rio Grande. Nome pelo qual era designada a represa antes de ser batizada de Billings em homenagem ao engenheiro idealizador e construtor do sistema. Sua nascente está na região de Paranapiacaba. Não se safa por longo trecho das agressões. Em suas águas são lançadas cargas altamente poluidoras de indústrias químicas e esgotos domiciliares não tratados.  

O Diário do Grande ABC (14.3.91) denunciou que somente 3% do esgoto de Rio Grande da Serra é tratado; “o resto vai para o Rio Grande“. Ainda segundo o diário (25.01.90) a ELCLOR (antiga Eletrocloro).  

Há 42 anos despeja mercúrio no Rio Grande”.  

Em 1982 o Governo do Estado construiu a Barragem Anchieta (à altura da Via Anchieta), criando o Compartimento Pedreira e o Compartimento Rio Grande. A barragem tem o fito de não permitir a penetração de águas provenientes do chamado “bombeamento“no setor em que a SABESP faz a captação de água para abastecimento do ABC.  

Mas, se persistir a situação de lançamentos no curso do rio ou mesmo no Compartimento Rio Grande a idealizada pureza de suas águas também estará comprometida. (Ver Anexo VII)  

A análise das traíras capturadas junto à balsa João Basso e a estação de captação de águas da Sabesp, deve deixar-nos alertas. Sobretudo, o fato de a quantidade de mercúrio constatado nas vísceras e tecidos dos exemplares do Rio Grande estar superior aos do Compartimento Pedreiras. (Ver Anexo VIII). 

Entretanto, as condições gerais de suas águas são satisfatórias.  

Parece que as agressões ao entorno da Billings e suas consequentes degradações marcham no sentido da cidade de São Paulo para o Alto da Serra.  

Afora o já citado bombeamento, são também agentes deste processo:  

–  a desordenada ocupação do solo em pontos próximos às nascentes de córregos e ribeirões tributários da represa, através de loteamentos “clandestinos” (não tão clandestinos assim) e invasões organizadas.  

–  os desmatamentos frequentes, quase sempre associados à ocupação e ao corte de barrancos para aterros.  

–  o consequente assoreamento dos córregos e até aterros de nascentes. Foi o que aconteceu, para citar, com o braço da Billings que avançava pelo bairro Botujuru. Pelo relato dos moradores, a partir da terraplanagem que a Volkswagen executou em sua propriedade, acima do bairro, a cada chuva a represa desaparecia um pouco. Em menos de 10 anos desapareceu por completo, encontrando-se as águas, hoje, a quase um quilômetro abaixo de onde se encontrava outrora;  

–  o despejo de entulhos e lixos dos mais diversos teores, próximo à nascente,  

ou em níveis acima da represa, estando certo que as menores chuvas irão arrastá-los para dentro da represa.  

–  ainda nestes locais a queima de pneus e outros materiais facilmente inflamáveis, que além da poluição do ar, trazem também risco de queimadas.  

–  o lançamento de esgotos domiciliares nos córregos tributários da Billings ou diretamente nas águas da represa.  

–  o lançamento dos mais estranhos rejeitos (até colchões fora de uso) nas margens e mesmo nas águas da represa.  

– “por fim, uma parcela significativa dos ‘‘pescadores turistas” também agride de forma inconsciente, mas brutal, o seu próprio espaço de lazer, deixando em toda a orla da Billings (aqui inclusos os “rios”), os mais diversos tipos de detritos. Muitas das vezes boiando nas águas da represa. Ali ficam as embalagens descartáveis de seus refrigerantes, cervejas, os copinhos plásticos de suas iscas e quantidade inestimável de sacos plásticos.  

E este tipo de agressão é sério pelo seu volume e também porque a tinge todos os braços e cantinhos da represa.  

Era de se supor que no Reservatório do Rio das Pedras, ponto de desague de todas as águas da Billings houvesse uma exacerbação de poluentes. O mesmo não se dá. À medida que as águas da Billings seguem na direção da Serra, recebendo a contribuição dos rios/braços vai se dando a diluição da carga de poluentes, concentrada na região do Eldorado.  

E o que se observa é que o Rio das Pedras/Alto da Serra é hoje o ponto preferido pelos pescadores aficionados. Ali conseguem pescar, e com relativa abundância, os peixes mais delicados (segundo a sua classificação) – bagres, carpas, lambaris. E até filhotes de piau.  

Claro está que em tempo de estiagem a situação deva ser outra.  

A Billings poderia ser hoje a maior fonte para abastecimento de água da Grande São Paulo.  

No presente, suas águas são usadas para abastecer São Bernardo, Santo André e São Caetano. E isto de forma precária. São retirados do Compartimento do Rio Grande 4m3. Muito pouco para atender à demanda. Por isso a região vem sendo castigada pela imposição de um sistema de rodízio. A água é fornecida a cada bairro em dias alternados. Segundo Antônio Andrade, sociólogo e técnico da CETESB (Diário dos GrandeABC-14.3.91) muito mais poder-se-ia retirar do Compartimento Rio Grande, já, atendendo-se com isto à real demanda e evitando o transtorno do rodízio.  

Virgílio Alcides Farias, presidente do Movimento em Defesa da Vida do ABCD, em artigo para o Diário do Grande ABC (01.7.88) vai bem mais longe. Cita as leis 889 e 1172 de 1976, a partir das quais a Billings passou a ser considerado um reservatório de água potabilizável. Condena as obras vultuosas para se captar longe a água para o abastecimento de São Paulo. Enquanto isto, para ele, continuam disponíveis na Billings 17m3 de água por segundo.  

Queremos muito, muito mais para a Billings. Todos nós. E acredito que não seria demais também querermos que duas das cláusulas do Decreto 4.487 (27.12.1927), que aprovou a criação do sistema, fossem cumpridas:  

III – A linha perimétrica de 747 metros acima do nível do mar deverá compreender não só a  

área coberta pelas águas represadas em sua altura máxima, mas também uma faixa de terreno com a largura mínima de dois metros, medida segundo a declividade do terreno, destinadas ao serviço do saneamento e conservação das margens do reservatório.  

IV – A companhia deverá impedir, na superfície do reservatório do Rio Grande todas as vegetações que favoreçam a vida de larvas e ninfas nocivas à saúde “pública, a juízo da Diretoria do Serviço Sanitário”.  

8 – Trecho assoreado de dos braços da Billings (Bairro Botujuru)

8 – “Quando chegaram aqui encontraram tudo certinho” 

“Durante todo o tempo que nossas nações viveram, antes da chegada dos conquistadores não havia desequilíbrio ou agressão alguma ao ecossistema. Tanto que quando chegaram aqui, encontraram tudo certinho.”  (Karaí-Mirim) 

“Não é porque é um povo nômade que ele vai andar por todo o continente. Ele circula numa área que ele sabe que “é” dele. Você não vai ver nunca um povo – sendo nômade ou não invadindo a área de outro povo.”  (Jecupé)  

Quem de nós já não ouviu falar dos guaranis, este grande povo da família Tupi-Guarani, que dominou o quadro da cultura primeira das terras daqui do sul?  

“De Cananéia para o sul, pela costa e pelo interior, abrangendo grande parte do sertão paulista, nos vales do Paraná, Tietê e Paranapanema, descendo para o sul em direção ao Rio Grande, pelos campos elevados que o Tibagi, o Iguaçu e o Uruguai atravessam, e apesar de algumas tribos Tapuia interpostas, dominava o Guarani, falando por Carijós, tapes e outros. Na geografia em que estas línguas (tupi e guarani) foram faladas, encontram-se, agora, nas denominações dos lugares, os vestígios indeléveis do domínio de cada um”. (Teodoro Sampaio).  

Um guarani foi a personagem central do romance “O Guarani” (1856), mitificado pela pena de José de Alencar, e transformado em ópera: “O Guarany“, por Carlos Gomes. Estreou com Grande êxito no Teatro Scala de Milão e seguiu brilhando pelos teatros do mundo. Mas quem poderia imaginar que dentro da cidade de São Paulo, ao sul (região de Parelheiros, a 50 minutos da Praça da Sé) pudesse subsistir, hoje ainda, uma aldeia indígena do povo guarani. Uma não: são duas aldeias próximas uma da outra.  

Uma, a Morro da Saudade, fica próxima à Barragem de Pedreira. A outra, Aldeia do Curucutu, fica logo abaixo, num dos braços da Billings. Na primeira vivem hoje em torno de 200 indivíduos, sendo 2/3 da população formada por crianças com menos de 11 anos.  

“É uma das poucas boas notícias que se tem – porque se está observando um crescimento nas populações indígenas. Não é o caso, por exemplo, do povo lanomani, que está sofrendo o choque, o extermínio de uma forma mais direta. Até esse povo se recuperar vai demorar um pouco”. (Jecupé).  

A outra tem hoje 3 ou 4 famílias num total de 15 indivíduos. Nelas a língua se mantém. Dentro  

de casa, dentro da aldeia só se fala o guarani. Com todas as modificacões que ele possa ter sofrido,  

“que toda língua evolui; e principalmente no conflito com as civilizações de fora – muitas coisas que não são da cultura foram sendo introduzidas. Mas isso é como em qualquer povo, em qualquer parte do planeta”.  

Além da língua, buscam recuperar todos os aspectos de sua cultura, da medicina à pajelança, mesmo com a dificuldade de se manter certas prá ticas em um meio ambiente totalmente degenerado, como veremos adiante.  

Mas, sobretudo a aldeia Morro da Saudade, vem dando passos largos neste sentido, graças, sobretudo, à atuação de 2 membros da tribo: Karaí-Mirim (40 anos, natural de Peruíbe, graduado em História pela Gama Filho e Lecionando a matéria numa escola pública na região da aldeia) e Jecupé (com 25 anos e uma inteligência e um senso de humor faiscantes).  

Ambos, por coincidência, participaram da minissérie “O Guarani“, da Manchete – mas isto em nada alterou a rotina de suas vidas. São os ”pontas de flexas” nesta luta da aldeia. Conhecendo muito bem os dois lados da moeda, percebem com clareza os tropeços da nossa cultura e emboscadas de nossa escala de valores. Então preparam os “antídotos“. E não dão um passo sem o submeterem antes à avaliação do conselho da aldeia, sob a liderança do cacique.  

Problemas não têm faltado à aldeia. O povo guarani (como quase todas as nações indígenas) sempre foi nômade e as terras das aldeias de Parelheiros (hoje transformadas em reserva indígena) sempre foi área de trânsito da nação. Mas uma parte das terras ainda se encontra em litígio. E, por incrível ironia, com o espólio da extinta rede Tupi (aquela do “indiozinho”).  

“Num dado momento, a antiga Rádio e TV Tupi invadiu uma parte da área – inclusive próxima à área onde  

haviam uns parentes – e construiu um prédio que seria um estúdio de transmissão da rádio; inclusive eles tinham antenas, toda a aparelhagem aí. Quando a Tupi faliu, essa área passou a fazer parte, segundo eles, da massa falida; porque, segundo a Tupi, essa área lhes pertence. Quando entrou em litígio (na época do Governo Franco Montoro) é que foi feita a primeira demarcação incluindo esta área onde está o prédio da antiga RTV Tupi.  

Acontece que os antigos acionistas são pessoas que estão ligadas diretamente ao governo. Um problema como este, de litígio, principalmente questão de terra, vai passar primeiro pelas mãos da Justiça do Estado, daqui foi para a Justiça Federal. Em abril do ano passado saiu uma sentença na Justiça Federal dando ganho de causa à comunidade guarani – só que, no caso, o pessoal entrou com o que eles chamam de “recurso extraordinário”, quer dizer, foi para o Supremo Tribunal Federal. A gente sabe que quem está envolvido diretamente nesta questão não vai ser maluco de dar ganho de causa para a comunidade guarani, a menos que se faça pressão, porque está arriscando o próprio pescoço.  

Então, metade da área, mesmo sendo demarcada, mesmo sendo tradicional, permanece em litígio”. (Jecupé).  

Sendo um povo nômade, ficavam no mesmo lugar dentre 15 a 20 anos, mudando-se em seguida, promovendo assim um rodízio na utilização das terras e na exploração dos recursos naturais. 

 Isto permitia ao meio ambiente recompor-se.  

Hoje o nomadismo modificou-se. Antigamente toda a aldeia se deslocava.  

Hoje os parentes saem com suas famílias, com grupos ou sozinhos e vão para outras aldeias e assim continuam circulando. Nesse sentido, é difícil saber exatamente quantas pessoas há nas aldeias“. (Jecupé)  

Quando estivemos em visita a Morro da Saudade, havia recém chegado “parentes” de outra aldeia (uma família).  

“Morre tudo à beira da Billings” 

Karaí  

A aldeia Morro da Saudade fica na região de Pedreira, como já dissemos, a parte mais crítica da Billings, onde a água é mais parada, mais contaminada.  

E muito pouco vive à sua margem. A maior parte da vegetação, nativa na área demarcada foi devastada. E a aldeia sofre com este desequilíbrio, com a morte do ecossistema.  

Se tivermos em mente que a sobrevivência dos povos indígenas esteve sempre apoiada na lavoura de subsistência, nas atividades extrativas, na caça e na pesca, poderemos avaliar as dificuldades por que passa este povo guarani, aqui dentro da capital (se bem que seja mais fácil as pessoas se sensibilizarem com as dificuldades do povo ianomani, no outro extremo do país). Não há o que caçar. Não há o que extrair – mel, palmito, frutas. E o que sobra de água, é a Billings. 

“Dentro da nossa medicina, por exemplo, o parto é feito sob a água. Na Billings é impossível fazer. Perdemos esse conhecimento, mas não temos como fazer nessa aldeia. Outros tipos de práticas culturais não tem como fazer, justamente porque necessita de ecossistemas e seus equilíbrios. Resultado: o que sobra pra gente? Água de poças. Quando dá uma seca como essa, tem a falta de água. Isso prejudica até o asseio da aldeia“. (Karaí)  

Mas assim mesmo há muita carpa, tilápia, …Os problemas de saúde surgem não só do consumo de peixe, mas também no contato com a água.  

Eu mesmo tive uma vez um problema muito sério nas pernas s6 por entrar na Billings. Agora, imagine se você come esse tipo de peixe. Muitas vezes o parente está comendo e na hora não acontece nada, mas isso pode trazer problemas futuros. Como muitas vezes acontece aqui de> a gente ver crianças doentes, adulto doente e ninguém sabe, aparentemente não tem nenhuma causa. Mas está relacionada diretamente a isso”. (Jecupé)  

Nenhum índio trabalha como empregado, fora da aldeia. Vez por outra prestam um serviço nas redondezas. Buscam a sobrevivência numa pequena lavoura e no fabrico e venda de artesanato.  

“Se planta aquilo que sempre se plantou: milho – que é um dos alimentos principais em grande parte das culturas indígenas, não só por ser um alimento forte, como do ponto de vista da cultura; o milho é considerado sagrado; então, nunca vamos deixar de plantar o milho. Fora isso, plantamos também feijão, mandioca, batata doce, amendoim; basicamente isso”. (Jecupé)  

A farinha, tão importante na dieta tradicional dos índios, foi abolida.  

 “Para fazer farinha é preciso ter uma roça bastante grande de mandioca. Como a área aqui é bastante pequena – e como a área ocupada (13 ha) é metade da área demarcada (que tem 23 ha). Quer dizer, são 13 hectares de terra (ou 4 alqueires) para 200 pessoas viverem … Então, como fazer uma roça grande tendo tanta gente assim?” (Jecupé).  

Muitas pessoas que visitam a aldeia, hoje, oferecem alguma ajuda, levando gêneros alimentícios e frutas. Estes são entregues ao cacique, que os coloca sobre um girau. Cada pessoa, ou família, chega e retira um pouco daquilo que necessita. Não há controle. Mesmo que o que foi trazido não seja suficiente para todo mundo, sempre cabe um pouco para todos que dele necessitam. Antigamente era muito mais.  

“Dentro da tradição, se, por exemplo, eu for caçar um tatu, eu não vou comer sozinho esse tatu. Embora seja um bicho pequeno, vou mandar um pedacinho para cada parente. Por uma questão até de educação. Sei que não vai matar a fome, que é pouco para uma família inteira, mas é questão de manter esse elo de ligação entre todos da aldeia. Isso ainda se mantém.  

As coisas.trazidas são colocadas em cima da mesa. Isso quer dizer: ‘Quem estiver com fome, quem quiser alimentar os filhos, está ali; é só ir lá e pegar’. Depois do contato com o branco, infelizmente, muitos parentes aprenderam a ser egoístas. Se chega alguma pessoa trazendo algo pra cá, alguns parentes procuram se beneficiar e não à comunidade de uma forma geral“. (Jecupé)  

Qual o povo indígena que não está encontrando dificuldades hoje em nosso país? Mas é bem provável que por se encontrarem na região em que estão os guaranis de Parelheiros estejam encontrando mais dificuldades para sobreviverem enquanto povo. 

 “Quem chega aqui e olha percebe isso claramente – só quem for tapado, ou for muito sacana para dizer “não, esse pessoal está assim porque quer, é relaxo, é aculturado, não é mais índio…” Não, não é nada disso. Qualquer um que tem um pouquinho de visão vai perceber que não é nada disso. Mas como a nação guarani já tem contacto há bastante tempo – embora continue sofrendo, sendo escravizada, exterminada – ela criou uma certa resistência contra essa loucura toda; contra essa conquista que parece que não vai ter fim. Então, a população da aldeia vem crescendo bastante”. (Jecupé)  

Omo embu poré (uma boa nova) 

Para o povo indígena do Parelheiros, a recuperação da Billings é vital (na acepção estrita do termo). E enquanto aguardam a despoluição da represa, com todo fôlego, fazem sua parte.  

Sua cultura está viva, até na cabeça das crianças. E com todo o fôlego, e com grande clareza de objetivos buscam recuperar ou dinamizar a prática de sua cultura tradicional.  

Então nesse sentido é que se pretende recuperar a prática cultural. Por dois motivos: 1º porque fazendo isso, você refaz o ambiente; até porque aquilo que os antepassados deixaram para a gente tem um sentido muito mais profundo nisso tudo: quer dizer, os antepassados deixaram para a gente como estar lidando com isso, os recursos naturais. Mas antes deles alguém entregou isso nas mãos deles:  

Olha, é seu; use como for melhor para você. Então, acho que é até obrigação não só do índio guarani – mas do ser humano estar envolvido e de permitir ao próprio planeta estar equilibrado. (Jecupé)  

Sem perda de tempo, e para cuidar destas questões criaram um Centro de Cultura Indígena. Os órgãos públicos mantinham-se em situação de empurra-empurra ou de emperrar para disputar. Não conversaram: arranjaram dinheiro no exterior e a construção da sede do Centro de Cultura segue avançada.  

E quando falam desta recuperação desta “cultura que não se perdeu“, deixam claro que sua postura não é “arqueológica“, mas dinâmica. E o melhor mesmo é deixar Caraí e Jecupé falarem do Centro e dos planos.  

O Centro de Cultura Indígena Guarani Ambá Arandu tem como base a resistência-resgate. “Resgate” no sentido do desenvolvimento da educação, incluindo educação para o trabalho – porque nós partimos da premissa de que a educação é a mola propulsora do desenvolvimento de uma cultura. Embora ainda ocorra o genocídio da nação guarani, nós não perdemos, temos ainda a essência, viva. E através do Centro de Cultura o resgate estaria registrando, dentro desse o desenvolvimento educacional, toda nossa cultura.  

A gente partiu da ideia de que esta era uma área grande, com todos os ecossistemas perfeitos. Os seres humanos ditos civilizados, em nome do desenvolvimento, não olharam isto e através de interesses políticos e econômicos foram implantando projetos, desequilibrando tudo. Cavam sua própria sepultura.  

Quanto às atividades, dando prosseguimento à resistência-resgate, está se criando uma infraestrutura de subsistência. É claro que na educação para o trabalho ela atua de acordo com as necessidades. Outrora não havia a necessidade de desenvolver a educação para o trabalho ligado à agricultura – porque predominava a coleta. E o que se plantava era o básico. Mas com a “conquista”, nós temos a necessidade de estar desenvolvendo essa educação do trabalho através da agricultura – que é uma das bases da subsistência. Essa já é uma atividade interna.  

Há várias outras etapas do desenvolvimento de educação para o trabalho, como apicultura, piscicultura.  

A apicultura é especialmente importante para nós. Antigamente não havia necessidade de desenvolver a apicultura porque na natureza era só chegar e coletar. Aqui tem que desenvolver; a necessidade obrigou. Então o Centro de Cultura vai cuidar disto”. (Karaí)  

De repente, é diferente você chegar aqui e dizer que vai fazer um reflorestamento: “Planta 50 mil mudas de pinho”. Mas, espera aí, tem uma série de outras plantas que não’ se desenvolve – consequentemente uma série de animais que não vão poder viver nesse ambiente. De repente você prejudica o solo, você mexe com a água, desequilibra tudo. Então, vamos precisar refazer aquilo que não foi destruído pelo povo guarani, mas pelo povo de fora – que na verdade se autodestrói, também com tudo isso“. (Jecupé)  

“Fora a educação profissional há ainda a educação bilíngüe, pois temos que estar aprendendo o que a escala de valores oposta oferece. Isso no sentido de preservação mesmo. Quer dizer, dentro dessa alfabetização bilíngue, que seria a forma de estar desenvolvendo educacionalmente o outro lado. E ali estarmos cuidando também da parte da saúde, da parte sanitária, e também o intercâmbio com a comunidade não indígena, numa forma de estar valorizando a cultura brasileira”. (Karaí)  

“Como fazer uma casa, confeccionar objetos, enfim, um monte de coisas dentro da tradição? Você necessita de um ambiente que te proporcione isto. Então, nesse sentido, o que tem que fazer? Recuperar todo o recurso natural que os antepassados deixaram como herança para a gente; como estar utilizando isto sem nunca perder, sem nunca destruir, semnunca depredar. Então, a intenção é essa: não só recuperara cultura de um povo pura e simplesmente – recuperar talvez não seja bem um termo adequado – mas recuperar a prática da cultura, porque ela não se perde. Quer dizer, ela está viva; está na cabeça até de crianças”. (Jecupé)  

Não há aves silvestres para a obtenção de “penas nobres” para enfeite de seu artesanato. Não esmoreceram: criam galinhas, tingem as penas e seguem em frente. À nossa frente de “homens civilizados” quando batalham a instalação de um bio-digestor para tratamento dos esgotos da aldeia.  

“O biodigestor seria o mais saudável para o equilíbrio do nosso ecossistema. E aos ecossistemas. Estaria trazendo ainda, dentro de uma cultura alternativa, vários pontos positivos como o gás metano, o adubo… e não estaria causando mal nenhum a nada”. (Karaí)  

E temos certeza que poderia ser uma solução economicamente mais rápida e viável para várias das comunidades que vivem na orla da Billings.  

“Todo o povo no mundo inteiro deve se desenvolver em harmonia com o meio físico-geográfico existente. Essa foi a essência do povo do sol (o povo Inca). Para ter desenvolvimento, progresso, o ser humano não precisa destruir; se destrói, ele está involuindo”. (Karaí)  

9 – Séquia (a concha) e ramina (o recipiente) – usado pelos antigos colonos italianos para  

armazenar água potável junto ao local de trabalho (acervo: Família Rosa). 

9 – Notas 

  “Por aqui nós conhece as represa tudinha. Nós pegava era saco de peixe. Sempre deu muito peixe. Só falta a paciência. Tem dia que dá, tem dia que não dá”. (Moacir M. da Silva)  

1 – Curupira I – 1985 – reuniu entidades com carismas variados, atuando durante os 10 dias da Feira da Criança, no Anhembi. As bandeiras maiores foram à defesa das baleias e SOS Billings;  

Curupira II – 1988 – realizado em parceria com o Sesc Carmo, trouxe a público o trabalho de levantamento da Cultura Caiçara no Vale do Ribeira e Litoral Sul, da pesca artesanal no Mar de Dentro e da relação do caiçara com seu meio. Surgiram o caderno Homem/Natureza: harmonia ou agressão? E o documental fotográfico rio abaixo, rio acima;  

Curupira lIII – 1991 – Billings Viva!  

.2 – Nas divisas de São Bernardo com Cubatão, na região conhecida por Alto da Serra, oujá na encosta da serra, e dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, na área pertencente à Eletropaulo, encontram-se os seguintes monumentos:  

– Monumento do Pico – o ponto mais alto da Calçada do Lorena;  

– Casa de Visitas do Alto da Serra;  

– Barragem do Rio das Pedras;  

– Pouso do Paranapiacaba – “a li vista do mar”;  

– Pouso Circular _10 cruzamento da calçada do Lorena com o Caminho do Mar;  

– Rancho da Maioridade;  

– Padrão do Lorena – história da construção da estrada e homenagem a seu construtor;  

– Ruínas do Pouso  

– Calçada do Lorena.  

• 3 – Na realidade os moradores mais antigos do Riacho Grande, hoje, são ex-colonos ou seus descendentes. Então, as expressões “antigamente” e “naquele tempo“, por eles usadas, referem-se a uma época em que estes (colonos e descendentes) eram os únicos habitantes da região. Ou pelo menos a população numericamente mais significativa. Mas a região sempre foi ponto de passagem de quantos se dirigiam do Planalto a Santos e deste ao Planalto. Por ali havia pousos para viajantes e tropeiros, mas se nenhuma ocupação significativa do solo.  

Em 1878, com a criação do núcleo de colonização de São Bernardo, a região se abre para os colonos: italianos, alemães e polacos. Surgem as “colônias” as chácaras, muitas delas situadas à margem dos rios.  

Entre 1925/1930-35 cobertas pelas águas da represa do Rio Grande, desapareceram as chácaras que se situavam nos baixios.  

– Pelos meados da década de 40 começam as construções de grandes casas na orla da Billings. E tem início o fluxo de ”turistas”, aumento da população nos fins de semana.  

– A década de 50 traz o aceleramento do progresso/industrialização do ABC. É o começo do fluxo de migrantes para se empregarem nas indústrias. Afora este corte brusco nas relações quase que familiares, os problemas sociais, evidente, também começaram a surgir. 

 “A gente saía, a porta tinha um trinco assim, num tinha save (chave), não tinha nada. Vortava, tava tudo no mesmo lugar.” (D. Lina Rosa).  

.4 – “Esse tempo era muito melhor que agora; tinha mais liberdade e menos perigo. Hoje a gente sai de casa, não sabe se volta. Não tinha ladrão como tem hoje em dia, não tinha nada. O sinhor podia andar dia e noite sem o sinhor precisar levar nada no bolso. Não tinha perigo de nada. Não era como hoje em dia. Hoje em dia o sinhor num pode sair na rua de noite, porque…” (Nono Rosa).  

• 5 – Não passou despercebida a Mawe, no início do século XIX, a importância da construção: 

 “Depois de descansar por uns 20 minutos, tornamos a montar e reiniciamos a subida. A estrada apresentava, acima de nós, num só golpe de vista, quatro ou cinco ziguezagues, proporcionando-nos justo motivo de espanto, pela realização de uma obra tão cheia de dificuldades. Os milhões de coroas dispendidos em derrubar as matas, perfurar as rochas por distâncias consideráveis, assim como pavimentá-las, de um lado, em toda a extensão, dão não pequena ideia do espírito empreendedor dos brasileiros. Poucas obras públicas, mesmo na Europa, lhes são superiores, se considerarmos que a região por onde passa é quase desabitada, encarecendo, portanto, muito mais, o trabalho, não encontraremos nenhuma, em país algum, tão perfeita, tendo em vista tais desvantagens.” (MAWE, Viagens…)  

.6 – O engenheiro Edgard de Souza não dá uma visão correta da real ocupação da região, que se adensou quando ali foram instaladas as linhas de colonização.  

Newton Ataliba Madsen, a partir dos levantamentos feitos para a construção da represa do Rio Grande relaciona as seguintes propriedades de italianos, alemães e poloneses:  

– Região de Morros e Córrego Preto – 27  

– Região do Curucutu e Taquacetuba – 17  

– Região do Capivari e Rio Pequeno – 55  

– Região dos Tatetos e Pedra Branca – 38  

– Região do Alvarengas e Eldorado – 62  

– Região do Ribeirão Pedroso e Bichos – 21  

– Rio Grande ou Jurubatuba – 97.  

• 7 – “em São Bernardo o rio corre para cima” 

– em qualquer outro lugar essa afirmação pode ser absurda, mas nesta cidade é uma verdade. O Rio Pequeno e o Rio Grande, represados com seus afluentes pelo sistema Billings apresenta essa anomalia, tendo suas águas que originalmente corriam de cima para baixo, têm suas águas correndo para as cabeceiras a fim de despejar no Alto da Serra, e o Rio Grande, que antes recebia do Rio Pequeno como afluente, hoje sobe pelo seu próprio afluente.”  

(Newton A. M. Barbosa. Subsídios)  

• 8 – Na realidade esta questão do volume de pesca nas águas da Billings sempre é um tanto controversa. 1m porta ressaltar que entre 1948 e meados dos anos 70, a população de peixes na represa sempre foi alta, com um rendimento alto de pescado. Mas isto graças às 

 “criações efetuadas na Estação Central de Piscicultura de Varginha (SP), criadouro de Varginha, na via Anchieta, e nas subsidíárias: Criadouro da Pedreira, Criadouro do Caminho do Mar e Criadouro do Rio das Pedras“.  

“Com o advento da Represa, 1937, e a posterior colocação de peixes, iniciada a partir de 1948, pelo antigo serviço de piscicultura da Light, começou a pesca sistematizada, chegando a Represa, vinte anos mais tarde, a contribuir com 215,7 toneladas de pescado, que entraram na Companhia Entreposto Armazéns Gerais do Estado de São Paulo – CEAGESP, antigo CEASA.” (Rocha, 1985, p.402)  

No início dos anos 70 o serviço foi praticamente extinto tendo início a decadência da pesca comercial.  

.9- O transporte fluvial foi sempre de grande importância na regia o (rios Grande, Pequeno e Pinheiros). Sobretudo o efetuado pelos batelões, dicionarizados como grandes batéis, embarcações curtas, mas de grandes proporções, para transporte de cargas pesadas.  

Tão importante que durante a construção do Reservatório do Rio Grande, a Light desencadeou um processo de construção seriada de batelões em concreto armado. Serviram de apoio às obras executadas nos pontos mais inacessíveis do reservat6rio em formação.  

Newton A. M. Barbosa lembra também os alvarengas, dicionarizados como embarcações para carga e descarga de navios:  

“Nesta região é de ressaltar o fato de que junto à propriedade de João Estevam de Araújo, à margem do Rio Grande, próximo à foz do Ribeirão dos Alvarengas, e junto a uma estrada que ligava São Bernardo à região das colinas e de Parelheiros, havia um porto para ancoragem de embarcações e daí resultou o nome do bairro do Alvarengas – nome dado aos lanchões para carga e desgarga, havendo ainda próximo a este ponto um terreno da antiga Câmara Municipal de S. Bernardo que era utilizado para cemitério.”  

(Newton A. M. Barbosa. Subsídios…).  

.10 – João FERRElRA, Memórias de Paranapiacaba.  

“O combustível utilizado nestas locomotivas era, em princípio, carvão mineral, mas quando passamos pela fase da Segunda Guerra Mundial, o carvão foi substituído por lenha. Lembro-me que, na época, essa mudança obrigat6ria foi muito comentada, inclusive por meu pai que era maquinista. De acordo com o novo esquema de trabalho, devido ao fato de a lenha ser muito mais fraca que o carvão, foram necessários algumas mudanças. Foi preciso anexar à máquina (locomotiva) dois vagões e os mesmos precisavam também de alterações, ou seja, foram colocadas laterais com aproximadamente o dobro da altura dos vagões, para que se acondicionasse lenha suficiente para uma viagem, no mínimo de Paranapiacaba a São Paulo. Não vou explicar aqui todo o processo tecnicamente, pois não vem ao caso, mas só para fornecer ao leitor uma ideia do consumo de lenha nesse perído crítico, basta dizer que em uma viagem de Paranapiacaba a São Paulo não sobrava lenha alguma nos vagões. Seria bom acrescentar que esse sistema foi utilizado mais para os trens de carga no princípio, e depois teve que ser incluído nos trens de passageiros, sendo necessário o trabalho de mais ajudantes, além do foguista, para o transporte de lenha do vagão para a fornalha da locomotiva.” (Paranapiacaba, estudos e memória – pp. 4 e 5).  

• 11 – Nos primeiros contatos que fiz com a Cetesb, não obtive nenhuma informação oficial. Por outras vias é que tive acesso ao artigo “Produtos de Pesca e contaminantes químicos“, mas este escrito sobre coletas feitas entre 1975 – 1983;  

• 12 – Os autores do artigo citado na nota anterior atribuem voracidade à própria tilápia comum:  

“A Tilápia rendali (T.melano-pleura) viria a dominar completamente a Represa Billings, assenhorando-se do nicho ecológico, desalojando e diminuindo a população de outras espécies de peixes na represa”.  

Billings Viva – Próximo Capítulo – 10