Artesanado de Palha de milho, da cidade de Redenção da Serra. Artesã Giselda. Fotografia de Reinaldo Meneguim

Folguedos

Folguedos

“O povo dá a cada manifestação uma denominação própria, sem muita consciência de categorias estanques. Tais denominações variam de uma comunidade para outra. Às vezes, variantes de um mesmo folguedo ou dança têm nomes que não se relacionam entre si; outras vezes o mesmo nome denomina manifestações diferentes, sem qualquer relação. Também se usa a palavra folguedo como sinônimo de folgança, brincadeira, indiferenciadamente para os folguedos propriamente ditos, como o Bumba-meu-boi, como outras brincadeiras.”
Roberto Benjamin

O texto que se segue é uma versão simplificada da Comunicação apresentada, originalmente, ao I Congresso Sul-americano da IOF-UNESCO – Ago/ 95. Foi reapresentado, posteriormente, ao IX Congresso Brasileiro de Folclore- Comissão Nacional de Folclore- Porto Alegre – RS- Set/ 2000, em cujos Anais foi publicado.

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Pastorinhas de São Luís do Paraitinga

As pastorinhas são meninas que, bailando e cantando fazem visitas aos presépios domiciliares, montados nas casas durante o ciclo de natal. Por outra, integram-se também, à programação da tradicional Festa do Divino.

Com entrecho dramático hoje simplificado, estão no limite entre um folguedo e uma pura expressão de dança.

Foto: César Diniz – folguedo

Autos, folguedos, folganças, bailados ou danças dramáticas denominam expressões complexas em que, no mais das vezes, a dança constitui-se em elemento de destaque. Folguedo é a denominação mais aceita, designando todo fato folclórico, dramático, coletivo e com estruturação, priorizando ora o elemento dramático, ora o do brinquedo ou o coreográfico.

Se traduz em representação, espetáculos por vezes em cortejo. Personagens, figurinos – exibição. Bailados coletivos que, junto com obedecerem a um tema dado tradicional e caracterizador, respeitam o princípio formal das suites, isto é, obra musical constituída pela seriação de várias peças coreográficas.

“A característica essencial do folguedo é o sentido de representação. No folguedo o indivíduo assume provisoriamente um ou vários papéis na apresentação.”

Se traduz em representação, espetáculos por vezes em cortejo. Personagens, figurinos – exibição. Bailados coletivos que, junto, obedecem a um tema dado tradicional e caracterizador, respeitam o princípio formal das suites, isto é, obra musical constituída pela seriação de várias peças coreográficas.

Em razão da sua complexidade os grupos de folguedos são sempre estruturados. A divisão de trabalho e a hierarquia interna ultrapassa o momento da representação. A participação nos grupos exige certa permanência, por isso, os grupos são considerados fechados, isto é, somente participam de forma efetiva nas representações ou seus próprios integrantes. A participação da assistência é de outra natureza. Embora haja este caráter de permanência e os integrantes em geral saibam do seu papel ou papéis, nunca deixam de realizar ensaios.”
Roberto Benjamin

Portanto, são folguedos os boi-bumbás, os reisados, os congos e moçambiques nas suas inúmeras variantes, os maracatus, cabocladas e caboclinhos, taieiras e folias de reis, dentre as dezenas que existem Brasil afora.

Nelas estão inseridos os nossos folguedos – Congos ou Congadas, Moçambiques, Folias ou – representações que se dão por vezes em cortejo tendo por cenários as ruas e praças públicas de nossas cidades, especialmente nos dias de festas em louvor dos santos padroeiros e do calendário litúrgico ou profano. Seus participantes se organizam em grupos estruturados, respeitando a divisão de trabalho e hierarquia interna. Necessitam de ensaios periódicos.

Estruturam-se em bailados coletivos que, junto com obedecerem a um tema dado tradicional e caracterizador, respeitam o princípio formal de uma suite, isto é, obra musical constituída pela seriação de várias peças coreográficas.

Dramático não só no sentido de ser uma representação teatral, mas também por apresentar um elemento especificamente espetacular, (vale dizer que implica em ser vistoso, que impregna os olhos, seduzindo pela grandiosidade, pelo aparatoso, ostentoso; pela beleza, e até pelo luxo), constituído pelo cortejo, sua organização, danças e cantorias.

Coletivo por ser de aceitação integral e espontânea de uma determinada coletividade; e com estruturação, porque através da reunião de seus participantes, dos ensaios periódicos, adquire uma certa estratificação.

Seu cenário são as ruas e praças públicas de nossas cidades, especialmente nos dias de festas locais, em louvor dos santos padroeiros ou do calendário.”

Nos folguedos cada participante tem consciência de seu complexo papel – o sentido de representação, de “jogo’ (no sentido teatral do termo), bailante, jogral,…O que não costuma acontecer na dança, onde ele continua a ser ele mesmo…

O que se afirmou acima, no referente às danças, repito aqui, a reforçá-lo:

“A esta fluidez, esta flexibilidade, esta dinâmica de acrescer, subtrair, incorporar, reinterpretar, próprios das manifestações populares, deve-se ter em conta que um grande número de estudos folclóricos foi realizado a nível de registro de uma observação local, sem qualquer preocupação em estabelecer uma contextualização, sem relacionar com outras manifestações culturais e com a vida social da comunidade, sem análise comparativa com manifestações; sem levar em conta a história da comunidade, a origem da sua população, as migrações, etc.“
Roberto Benjamim

Apoiado nos trabalhos de tantos pesquisadores, e em nossas próprias pesquisas de campo, assim entendemos a extensão do Congado no Brasil, em sua grande complexidade, desde aqueles que ainda conservam as cortes, reinados, até aqueles em que as mesmas são somente referências históricas.

Traduzem-se em representação, dramatizações e por vezes em cortejo, com personagens, figurinos – exibição. De forma especial, no referente aos folguedos agrupados nos reinados de congos, podem ser apontadas algumas pertinências:

Há, com ampla documentação, dois grandes motivos sociais para essas danças que são, pela extensão e articulação cênica, autos:

a) – coroamento dos Reis de Congo, honorários, cerimônia nas igrejas, cortejo, visitas protocolares às pessoas importantes,

b) – sincretismo de danças guerreiras africanas, reminiscências históricas, mais vivas nas regiões de onde os negros bântu foram arrancados, e escravizados, Congo, Angola, fundidas, num só ato recordador, tornado possivelmente “nacional” mesmo para a escravaria de outras raças e nações.
Leda, 34

Este tema, o dos congos, Congado em São Paulo, será detalhado a seguir, como também está sendo abordado em nível mais amplo em obra paralela: Reinados de Congos.

E já adiantando, Alfredo Rabaçal, tratando do tema nos tras considerações alicerçadas em considerações de Gustavo Barroso e Artur Ramos

Mais genericamente, Gustavo Barroso considera o folguedo ‘como uma espécie de ópera importada pelos escravos, por eles desenvolvida e ligada aos descendentes já libertos’, particularizando ao se mostrar convencido de que não resta a menor dúvida de que o auto dos Congos comemore episódio histórico de guerras afro-lusas-flamengas-brasileiras na África durante a segunda metade do século XVII ’, visto que as expedições a Angola ‘levadas a efeito por brasileiros, bem como o tráfico de escravos, enriqueceram nosso folclore com este interessantíssimo auto.’

Artur Ramos concorda com essa opinião, ao dizer que ‘o auto dos congos exprime uma sobrevivência histórica, de antigas epopéias angola-conguesas’, o memo acontecendo com Mário de Andarde, para quem a ‘áfrica é cantada especialmente na política das embaixadas de paz ou ameaça, e sempre na sua permanente beligerância’, acrescentando que ‘Embaixadas e guerras é que fazem o núcleo dramático das congadas’.” (Rabaçal, 106)

Autos, folguedos, folganças, bailados ou danças dramáticas denominam expressões complexas em que, no mais das vezes, a dança constitui-se em elemento de destaque.

Folguedo é a denominação mais aceita, designando todo fato folclórico, dramático, coletivo e com estruturação, priorizando ora o elemento dramático, ora o do brinquedo ou o coreográfico.

“A característica essencial do folguedo é o sentido de representação. No folguedo o indivíduo assume provisoriamente um ou vários papéis na apresentação, o que não costuma acontecer na dança, onde ele continua a ser ele mesmo…

Em razão da sua complexidade os grupos de folguedos são sempre estruturados. A divisão de trabalho e a hierarquia interna ultrapassa o momento da representação. A participação nos grupos exige certa permanência, por isso, os grupos são considerados fechados, isto é, somente participam de forma efetiva nas representações ou seus próprios integrantes. A participação da assistência é de outra natureza. Embora haja este caráter de permanência e os integrantes em geral saibam do seu papel ou papéis, nunca deixam de realizar ensaios.” (Roberto Benjamin)

Bailados coletivos que, junto com obedecerem a um tema dado tradicional e caracterizador, respeitam o princípio formal da suite, isto é, obra musical constituída pela seriação de várias peças coreográficas.

Dramático não só no sentido de ser uma representação teatral, mas também por apresentar um elemento especificamente espetacular, constituído pelo cortejo, sua organização, danças e cantorias. Coletivo por ser de aceitação integral e espontânea de uma determinada coletividade; e com estruturação, porque através da reunião de seus participantes, dos ensaios periódicos, adquire uma certa estratificação. Seu cenário são as ruas e praças públicas de nossas cidades, especialmente nos dias de festas locais, em louvor dos santos padroeiros ou do calendário.

“O que não costuma acontecer na dança, onde ele continua a ser ele mesmo…em razão da sua complexidade os grupos de folguedos são sempre estruturados. A divisão de trabalho e a hierarquia interna ultrapassa o momento da representação. A participação nos grupos exige certa permanência, por isso, os grupos são considerados fechados, isto é, somente participam de forma efetiva nas representações ou seus próprios integrantes. A participação da assistência é de outra natureza. Embora haja este caráter de permanência e os integrantes em geral saibam do seu papel ou papéis, nunca deixam de realizar ensaios.” (Roberto Benjamin)

Portanto, são folguedos os congos e moçambiques nas suas inúmeras variantes, os e folias de reis, dentre as dezenas que existem Brasil afora.

São danças o samba, o batuque, o jongo, a mazurca… mais de uma centena de títulos.

Os grupos que são enfeixados nos Reinados do Rosário, por suas próprias estruturas internas, bem como por seus desempenhos e complexidade, são por convenção denominados folguedos.

Claro que esta é a denominação de quem olha-os de fora, pesquisadores que analisaram suas organizações e desempenhos:

São vários os autores que assinalam, no século XIX, o desenvolvimento de um enredo particular performado pelos Congados, os autos e as embaixadas, que tinham por tema celebrar a memória e os feitos da guerreira rainha negra angolana Njinga Nbandi, personagem histórica que, no século XVII, resistiu ao domínio português” por mais de cinqüenta anos. (Leda, 35)

Como se apresentam no Brasil hoje

Apoiado nos trabalhos de tantos pesquisadores, e em nossas próprias pesquisas de campo, assim entendemos a extensão do Congado no Brasil, em sua grande complexidade, desde aqueles que ainda conservam as Cortes, Reinados, até aqueles em que as mesmas são somente referências históricas.

Desta feita são Reinados de Congos em sua grande diversidade: os reisados, congadas, congos e moçambiques em inúmeras variantes, os maracatus, as taieiras, os marambirês, cacumbis, ticumbis, catopés, etc…

Aparecem, como dito anteriormente, em todo nordeste, e no meio-norte, Alagoas, Sergipe, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, com modificações locais, no sentido da música, dos bailados e do próprio enredo. Às vezes possuem Reinado com rei, rainha e vassalagem, envolvendo parte dramática com embaixadas e lutas.

Mais comumente aparecem na forma de préstitos, cortejos, com os participantes cantando e dançando, revelando grande aculturação negro- africana, nos mais diversos pontos do país, em festas religiosas, principalmente nas dedicadas à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito.

Se são encontráveis do Pará ao Rio Grande do Sul, temos em Minas Gerais e São Paulo sua área de maior concentração.

Peculiarmente temos durante o Ciclo Natalino (de 25/12 a 20/01) uma grande ocorrência de festas em homenagem a Santos Reis e a São Benedito, com reunião de grupos de congos, como veremos a seguir.

Observação: Preservamos aqui, em muitos casos, as descrições de alguns dos folguedos em suas formas originais, devendo acrescentar que nem sempre concordamos com algumas das “abordagens”. Em muitos casos fizemos uma certa “assepsia” ou mesclamos descrições várias amparados, no mais das vezes, em nossas incursões de campo ou bibliográficas.

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Com o Congado Paulista temos promovido o encontro das companhias e ternos, buscando refletir a diversidade dos grupos em São Paulo bem como dinamizar suas atividades.

Tem sido também, oportunidade de encontro das Irmandades de São Benedito e N.S.do Rosário, ensejando sempre uma maior troca de experiências e documentação, ampliando assim o cabedal de informações. Tem ensejado, também, a divulgação e dinamização do universo congueiro de São Paulo.

Oportunidade de aclamação e coroação do Rei e Rainha Conga do Estado de São Paulo, com duração de reinado anual.

D. Antônio Gusmão, patriarca da família moçambiqueira da Vila do Tesouro- São José dos Campos, coroado Rei Congo de São Paulo em 2002

Foto: Manoel Marques- RSP- Capital

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