Artesanado de Palha de milho, da cidade de Redenção da Serra. Artesã Giselda. Fotografia de Reinaldo Meneguim

Festas

As festas populares são fatos sociais complexos, conjuntos de cerimônias, de rituais coletivos que visam celebrações de cunho religioso ou profano.

Neste site serão contempladas aquelas de motivações profanas ou religiosas que se mantêm em função da cooperação de toda uma comunidade, organizadas com a participação, senão de todos, mas de grande parte dos membros da mesma: São as “festas que o povo se dá”, no dizer de Peter Burke. Em suas realizações as pessoas não são meros observadores, consumidores, mas os sujeitos das ações, seus atores sociais.

As comunidades se envolvem em todas as etapas da mesma: na preparação, durante a fase cerimonial, que é ao mesmo tempo de fruição e de atuação, e no rescaldo e retorno à rotina.

Durante seus períodos festivos o tempo cotidiano é substituído pelo tempo ritual da festa – é a ruptura da rotina. As comunidades se purgam de suas contradições sociais – o espaço da festa passa a ser território comum em que todos os cidadãos circulam/convivem para além de suas diferenças, e por vezes evidenciando-as.

Não são estruturas fixas, mas um contínuo de mudanças: as celebrações pouco se transformam, e ao mesmo tempo escapam ao desgaste do tempo. São sempre as mesmas, mas nunca iguais.

Há festas de grande difusão nacional, religiosas ou profanas, públicas ou domiciliares e se constituem fenômenos paradoxais.

Nelas estão inseridos os nossos folguedos – Congos ou Congadas, Moçambiques, Folias ou – representações que se dão por vezes em cortejo tendo por cenários as ruas e praças públicas de nossas cidades, especialmente nos dias de festas em louvor dos santos padroeiros e do calendário litúrgico ou profano. Seus participantes se organizam em grupos estruturados, respeitando a divisão de trabalho e hierarquia interna. Necessitam de ensaios periódicos, o que faz seus funcionamentos ultrapassarem o momento da representação, exigindo dos mesmos certa permanência nos grupos.

Festas que o povo se dá…

… se a festa é, de fato, um forte elemento constitutivo do modo de vida brasileiro, não devemos esquecer que ela se dá de modos e com fundamentos diferentes para os vários grupos que a realizam.

… Devemos entender de que tipo de festa se está falando, como é produzida e com que finalidades e, mais ainda, qual o significado dela para os que a produzem e para o povo brasileiro que, de fato, quantitativamente, realiza muitas festas, conforme se pode notar nos calendários.

Rita Amaral – A Formação da Festa “à Brasileira”
(In memoriam)

Festa é conjunto de cerimônias, de rituais coletivos. Profanas ou religiosas, visam a celebração, e acontecem em função do interesse e da cooperação de toda uma comunidade. Há festas públicas e festas domiciliares.

Dentre aquelas temos nossas Festas do Divino, com peculiaridades regionais e até locais, festas de oragos ou santos de devoção popular ou de segmentos sociais específicos (pescadores com São Pedro ou N. Sra. dos Navegantes,…), que obedecem sempre a um calendário festivo que interage com o calendário do catolicismo oficial.

Quanto às outras, as domiciliares, ligadas a celebrações pessoais ou ritos de passagem, são inumeráveis, e diversos os seus perfis.

São as “festas que o povo se dá” no dizer de Peter Burke, festas tradicionais que se contrapõem às chamadas “festas populares” com interesses essencialmente consumistas, e não de participação.

Ao contrário, estas de que tratamos, constituem-se em fatos sociais complexos, conjuntos de cerimônias, de rituais coletivos que visam celebrações de cunho religioso ou profano. Durante sua realização, em seu acontecimento, as pessoas não são meros observadores, consumidores, mas sujeitos das ações. São os atores das mesmas. As comunidades se envolvem em todas as suas etapas: na preparação, durante a fase cerimonial (ao mesmo tempo de fruição e de atuação), no rescaldo e no retorno à rotina, o que contribui para sua dinamização, realçando-se seu poder de coesão social.

 

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Novena preparatória para a Festa de Santana, patrona de Ribeirão dos Cruzes. Festa da comunidade, da família representada em Santana (avó de Jesus), e São Joaquim, seu esposo, ao seu lado no adorno que lhes foi preparado.

Foto: TM, Julho 1980

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Em muitas de nossas festas públicas tradicionais estão inseridos folguedos Congos ou Congadas, Moçambiques, Folias ou Ternos de Reis, Reiadas, Companhias de Pastores, Caiapós. São representações que se dão por vezes em cortejo tendo por cenários as ruas e praças públicas de nossas cidades, especialmente nos dias de festas em louvor dos santos padroeiros e do calendário litúrgico ou profano.

Seus participantes se organizam em grupos estruturados, respeitando a divisão de trabalho e Hierarquia interna. Necessitam de ensaios periódicos, o que faz seus funcionamentos ultrapassarem o momento da representação, exigindo dos mesmos certa permanência nos grupos.

Quanto às festas domiciliares, dentre outras, destaco as festas de casamento, aquelas que acontecem no próprio âmbito das comunidades, em que as pessoas se relacionam e se solidarizam “em torno da mesa”. Em que têm oportunidade de se descobrir e se reconhecer, valorizando seus jeitos de ser, aumentando sua auto- estima.

Esta sequência de fotos dá conta de dois casamentos, no mesmo dia, na comunidade de Ribeirão Grande, no círculo dos fandangueiros. No Ribeirão dos Cruz, Elói Inês (Elói Faustino da Cruz), preparou o casamento de Maria Luíza Cruz e José Aparecido da Cruz. No ribeirão dos Nune, Duvirge e vizinhos organizaram o casamento do filho Simeão.

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Luíza Cruz e José Aparecido da Cruz. Dois dias antes da cerimônia religiosa, baile na casa do noivo. Baile no empalizado, preparado para a data, em que a família do noivo recebe os amigos, os da noiva inclusos, para celebrar.

Foto: TM- 1982

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No sábado, pela manhã, Luíza e José Aparecido seguiram para a igreja tendo realizado quase por inteiro um sonho de ambos: seguir em um Bugg branco. Na impossibilidade, ficaram felizes com o Jeep branco que um amigo encontrou, fato também inusitado. Sem contar os modelos que ambos vestiam, comprados em lojas especializadas na capital, com os resultados de uma boa safra, depois de um período de seca.

Foto: TM 1982

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Depois da cerimônia religiosa, os pais da noiva recebem em sua casa os amigos de ambas as famílias.

A parede de taipa, clarinha e decorada com simplicidade, emoldura a felicidade Luíza e José Aparecido, …

Foto: TM 1982

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… e atesta a alegria de todos pelo momento. É hora de finalizar uma celebração que durou quase uma semana.

Foto: TM 1982

Uma infinidade destas festas foram documentadas, e poderiam ser aqui relacionadas. Entretanto as que foram aqui abordadas exemplificam bem este universo.

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Festa de São Sebastião na Fazenda do Poço

Bairro do Pinheirinho, São José dos Campos

A presença do moçambique do bairro, na festa de seu padroeiro, capitaneado pelos mestres Hermínio e Nhô Carmo. Afora esta data, o Moçambique do Pinheirinho aceitava convites para participar de outras festas religiosas, dentro e fora do município. Nhô Carmo, então com seus 80 anos (1987), lúcido, era uma figura emblemática para a comunidade: além de capitão e dançador do maçambique, memória viva, capelão (conhecia vários benditos, que são orações cantadas),…Comunicava-se no mais “castiço” dialeto caipira, devidamente registrado em seus depoimentos e na cantoria dos benditos.

Foto – T. Macedo- Criação: GEN

Queremos aqui destacar dois momentos deste universo cultural ensejado pelo milagre das águas, nas duas pontas do Vale, no Alto Ribeira e no Lagamar.

Imagem relacionada

Em Iporanga, a água bonita, no final de cada ano, a comunidade celebra a festa de N. Sra. do Livramento, com a tradicional viagem ou descida da balsa (tema dos cartazes e programação visual desta edição). Na altura do bairro do Izídio, no ribeira acima, montam, sobre 3 grandes canoas, com cipós e madeira tirada da mata, uma balsa representando uma caravela.

http://albertoiporanga.blogspot.com/2011/01/matheus-theodoro-da-silva-e-o-boiacross.html

Depois de embandeirada, nela instalam a pequenina imagem que a comunidade guarda com zelo durante todo o ano, embarcam os remadores, geralmente em cumprimento de promessa, a banda de música, e, seguida de grande acompanhamento de canoas, “boieros” e outras embarcações, dá-se a descida festiva do rio até o porto, na pequena cidade. Parece que assim tem sido, em linhas gerais, há mais de dois séculos.

Contam que uma família portuguesa vinha vindo para o Brasil (isto teria ocorrido nos meados do século XVIII). O navio em que estava foi surpreendido por uma tempestade em alto mar. Parecia que iam naufragar todos. No auge da aflição, o capitão do navio trouxe uma imagem de Nossa Senhora do(s) Navegante(s) para o convés, e amarrou-a no mastro. Chamou todos, tripulação e passageiros, e pediram juntos que a patrona dos navegantes os salvasse. Contam que se deu o milagre, e o barco chegou salvo a um porto seguro.

Aquela família prometera que, se salvasse, onde fixasse residência divulgaria a devoção à Senhora do Navegante. Veio se instalar em Iporanga, no bairro Izídio, onde passaram a demonstrar sua gratidão à santa imagem, rememorando a viagem nas águas do rio. Por causa do fato ocorrido, denominaram-na Nossa Senhora do Livramento. A devoção foi se expandindo. Aos poucos começaram a chegar os romeiros e a festa foi ganhando a configuração presente.

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