Artesanado de Palha de milho, da cidade de Redenção da Serra. Artesã Giselda. Fotografia de Reinaldo Meneguim

Dança de Santa Cruz

ic_stacruzA devoção a Santa Cruz (Cruzeiro) tão estimulada, ao que parece, pelos jesuítas, fixou-se de forma significativa na Grande São Paulo, Vale do Paraíba e Comunidades da Mantiqueira. São muito numerosas as capelinhas de beira de estrada e sítios que Lhe são votadas e em que ocorrem as rezas e significativas festas. A devoção se expressa com a Dança de Santa Cruz – na realidade, uma sequência de danças com que se saúdam o Cruzeiro Principal e as Cruzes enfeitadas de flores colocadas à frente das casas.

Festa e Dança de Santa Cruz

Embu das Artes

Celebrada nos dias 2, 3 e 4 de maio em várias localidades da Grande São Paulo e outras inclusas no chamado Cinturão Jesuítico. Em algumas delas (Itaquaquecetuba, Embu das Artes e Aldeia de Carapicuíba) persiste a Dança da Santa Cruz, também conhecida como Sarabaqué. Parece que esta é a única região do Brasil (municípios circunvizinhos da Capital) onde existe esta dança. De forma especial é na Aldeia de Carapicuíba, em seus primórdios um reduto indígena, que a dança conserva sua maior pujança.

Consta que a mesma teria sido arquitetada pelos Jesuítas como parte de sua estratégia de catequese. É dançada diante das capelas, dos cruzeiros, das casas dos festeiros e, a seguir, diante de todas as outras cruzes colocadas junto às portas daqueles que o desejarem.

Em cada um dos locais mencionados, faz-se a saudação, todos postados em fila, voltados para a cruz, seguidos pelo povo que vai dançar, por diversão ou promessa. Dança-se, em seguida a roda e encerra-se com a despedida. Conduzida por dois violeiros, e com acompanhamento de vários reco-recos, adufes, puíta: Assim dispostos, os violeiros cantam um dístico de quadrinha, encerrando-o com um “ôooo” prolongado, no que são acompanhados por todos os participantes. A seguir, ao toque dos instrumentos e bater de palmas, todos se afastam uns seis passos, e depois, da mesma maneira, avançam outros seis passos. Os violeiros voltam a cantar diante da cruz, completando a quadrinha e arrematando com novo “ôooo” agudo.

Foto:Reinaldo Meneguin

Criação: Felipe Scapino/ Toninho Macedo

O símbolo maior da cristianização, a cruz, foi então fincado pelos padres jesuítas nos espaços centrais dos aldeamentos indígenas e das pequenas comunidades surgentes. Manifestações religiosas decorrentes da cristianização dos povos indígenas, figuravam no devocionário mameluco, mestiço e caboclo.

A devoção a Santa Cruz (Cruzeiro) tão estimulada e cultivada, pelos jesuítas, fixou-se de forma significativa na Grande São Paulo, Vale do Paraíba e Comunidades da Mantiqueira. Nestas regiões são muito numerosas as capelinhas de beira de estrada e sítios que lhe são votadas e em que acontecem as rezas e significativas festas. Devoção expressa com a Dança de Santa Cruz – na realidade, uma sequência de danças com que se saúdam o Cruzeiro Principal e as Cruzes enfeitadas de flores colocadas à frente das casas.

A partir da constatação da importância da dança na cultura dos índios, como estratégia para a sua catequização, na região citada acima os Jesuítas adaptaram a dança indígena “sarabaquê” para a festa de adoração à Santa Cruz, a Santa Curuzu apropriada pelos guarani, ou Santa Curuçá dos tupi. O certo é que a dança/festa rapidamente se difundiu entre as populações indígenas circunscritas no grande arco do já citado Cinturão Jesuítico, de forma especial na região da atual Grande São Paulo (Carapicuíba,

Itaquaquecetuba, Itapecirica da Serra e Embu das Artes).

Aldeia de Carapicuíba

Vista parcial da Praça da Aldeia, hoje. Foto inclusa no referido trabalho

A pesquisadora Helenice Camargo Henne, de Carapicuíba, pertencente a uma das famílias que há tempos conserva a memória e as tradições jesuítas, os Camargo, recentemente (2012) apresentou ao Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação ECA/USP, como trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de especialista em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos, http://www.usp.br/celacc/ojs/index.php/blacc/article/viewFile/377/333, um estudo baseado em suas vivências e levantamentos recentes.

Sem desconsiderar os importantes estudos realizados anteriormente (Eduardo Escalante, Alceu Mainard, Américo Pelegrini Filho,…), tomamos como base este estudo mais recente como confirmação da persistência desta expressão cultural, das mais longevas do universo das tradições em São Paulo.

Cinturão Jesuítico

Quando os jesuítas fundaram São Paulo em torno da promissora Piratininga, como bastiões da conquista do planalto, outras povoações coevas apareceram. Formavam sem dúvida um cinturão jesuítico defensivo e de penetração, mui além das roças de Jeribatiba, as povoações de Itaquaquecetuba, Carapicuíba, Itapecerica, M’boy.

In: Dança da Santa Cruz- Alceu Mainard de Araújo.

Municípios São Paulo

Era amplo esse cinturão jesuítico, pois Nóbrega, solicitado pelos nativos, penetrou quarenta léguas de Piratininga e formou uma pequena redução ao redor de uma capela na aldeia dos carijós, na Japuíba ou Maniçoba. Ingente foi o esforço dos jesuítas fixando os indígenas nas aldeias, pois o trabalho mais árduo foi sem dúvida tirá-los do nomadismo.

Cruzeiro enfeitado em dia de Festa da Santa Cruz Foto: Arquivo Helenice Camargo

Com as violas: Benedito do E. Santo Pereira Leite, Adilson Pereira Leite. Atrás,Lício Inácio Ferreira; com o reco-reco, Hermelindo Pereira Leite.

Originalmente a região era habitada por índios tupiniquins. Em 1554, com o objetivo de catequizá-los, um grupo de jesuítas fundou o aldeamento de Bohi, depois M’Boy Mirin, a meio caminho do mar e do sertão paulista. Em 1607, as terras da aldeia passam para as mãos de Fernão Dias (tio do bandeirante Fernão Dias) e Catarina Camacho, sua esposa. Em 1624, o casal doou as terras à Companhia de Jesus, com a condição de que fosse instituída a devoção à Nossa Senhora do Rosário e a adoração à Santa Cruz. É fato histórico que desde os tempos dos jesuítas (que permaneceram na região entre 1554 e 1759) os índios dançavam em frente à Igreja do Rosário. Em 1690, o Padre Belchior de Pontes iniciou a construção da Igreja do Rosário, transferindo, ao mesmo tempo, o núcleo da aldeia original. Já no século XVIII, entre 1730 e 1734, os jesuítas construíram sua residência anexa à igreja, formando um conjunto arquitetônico contínuo de linhas retas e sóbrias. Mas, em 1760, por ordem da Coroa Portuguesa, os jesuítas foram expulsos do Brasil. A região fazia parte do antigo município de Santo Amaro, e posteriormente do município de Itapecerica da Serra.

Dança de Adoração à Santa Cruz Embu das Artes

Expressão de religiosidade popular que remonta ao tempo dos jesuítas e perdura até hoje no município, não contando mais com o ingresso de jovens brincantes.

Foto: Reinaldo Menegui
Jandira Cachoeira

Hoje no Embu das Artes, o grupo resiste com uma participação predominante de mulheres, que se agregaram à família Cachoeira, e assim mantêm a tradição, com as devoções pertinentes.

Foto: Reinaldo Meneguin
Iracema Cachoeira – Cema

Noêmia Cachoeira

Filha de dona Elísia Cachoeira, dá prosseguimento à devoção cultivada pela mãe, liderando o Grupo de Adoração à Santa Cruz (aproximadamente 60 adoradores, em sua maioria mulheres), que se apresenta nas festas do município de Embu. Na Adoração à Santa Cruz, o próprio povo dirige a celebração, sem intervenção eclesiástica. O capelão, um leigo, é o encarregado de cantar os versos de louvor.

Foto: Reinaldo Meneguin

Dona Elísia Cachoeira (in memoriam)

Embu das Artes perdeu Elísia Maria de Jesus, mais conhecida como Dona Elísia Cachoeira, falecida em 19 de Outubro de 2007 com 92 anos. Conhecida por ser uma das grandes incentivadoras da Festa de Adoração à Santa Cruz juntamente com suas irmãs, ela deixou nove filhas, 28 netos, 61 bisnetos, 30 trinetos e um tataraneto. Dona Elísia foi sepultada no Cemitério do Rosário, no Centro de Embu.

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Ocorrência: Carapicuíba, Itaquaquecetuba, Embu.


Nome do Grupo Município a que pertence
Grupo da Santa Cruz Carapicuíba
Adoradores de Santa Cruz Embu das Artes Embu das Artes


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