São conhecidas as louças produzidas na região dos Campos Gerais (Interior Sul), Vale do Ribeira e Litoral Sul. Guardam peculiaridades regionais, mas em seu conjunto, ainda que trabalhadas por mãos diferentes, conservam semelhanças entre si, traços identitários que as aproximam de suas originais matrizes indígenas. De forma especial a louça preta cerâmica produzida no núcleo comunitário do Jairê (Iguape), também conhecida por louça preta. São potes, panelas, torradeiras e cuscuzeiros, modelados de forma especial que, depois de secos e logo depois serem queimados, são banhados, ainda quentes, com um cozimento da entre-casca de nhacatirão, tornando-se pretos e impermeáveis, confundindo-se, de longe com o ferro.
Sinhana de Itaoca
Vale do Ribeira
Tivemos notícia de Sinhana, por primeiro em 1975, através do Marcos Aranega, produtor do Programa Gente Jovem, da TV Cultura, que, tendo-a descoberto em Itaoca, com certa frequência passou a trazer suas peças para serem comercializadas em São Paulo. Assim, Sinhana de Itaoca passou a ser uma figura mágica. Um ícone. Ninguém fazia idéia de como poderia ser Itaoca. Mas a conhecia por Sinhana. Não dona Ana, senhora Ana, nem ao menos sinhá Ana, mas assim mesmo – Sinhana, a de Itaoca.
E não adianta informar que em tupi ou guarani significa caverna, gruta ou casa de pedra, e que designa um município do Alto Vale do Ribeira. Emancipado de Apiaí em 1991, mas comunidade reconhecida desde de 1808, localiza-se em área hoje definida como de proteção ambiental. Interessa sim dizer que ali, nas quebradas da serra, em local de difícil acesso, está localizado o Cangume, o quilombo onde nasceu Sinhana. A Itaoca de Sinhana. Com sua avó aprendeu a domar o barro que lhe deu sustento e à sua família, e a faz famosa.
Hoje, com saúde frágil, mas sempre generosa, compartilha seu saber com quem se disponha a aprender, tendo reconhecido Abrão como discípulo e fiel depositário de seu legado.
Foto: Reinaldo Meneguin
Criação: Felipe Scapino e T. Macedo
Boneca de barro
De Jandira Lindor Bueno
Barra do Chapéu
Cerâmicas
São conhecidas as louças produzidas na região dos Campos Gerais (Interior Sul), Vale do Ribeira e Litoral Sul. Guardam peculiaridades regionais, mas em seu conjunto, ainda que trabalhadas por mãos diferentes, conservam semelhanças entre si, traços identitários que as aproximam de suas originais matrizes indígenas. De forma especial a cerâmica produzida no núcleo comunitário do Jairê (Iguape), também conhecida por louça preta, técnica da qual D. Benedita Dias é a guardiã (esforços estão sendo empreitados para o compartilhamento deste saber, e permanência da expressão). São potes, panelas, torradeiras e cuscuzeiros, modelados de forma especial que, depois de secos e logo depois serem queimados, são salpicadas, ainda quentes, com um cozimento da entrecasca de nhacatirão, tornando-se pretos e impermeáveis, confundindo-se, de longe, com as antigas panelas de ferro.
Foto – Reinaldo Meneguin
Criação: T. Macedo e Felipe Scapino
Jandira Lindor Bueno e Jaqueline de Oliveira (Barra do Chapéu)
Na Barra do Chapéu, no Alto Ribeira, onde se concentra nosso maior núcleo de produção de cerâmicas, em meio à especial produção de louça utilitária , sobressaem as bonecas de Jandira Lindor Bueno e Jaqueline de Oliveira.
Mércia Borges (Joanópolis)
Em Joanópolis, nas raízes da Mantiqueira, Mércia Borges, revelou-se importante artista no barro, de forma especial por seus santos: não há encomenda de santo, ou devoção que não atenda. E produção intensiva tem proporcionado um impressionante aprimoramento, num constante desabrochar.
Este foi seu primeiro são Benedito.
Artesanatos
O homem do campo (e até mesmo da cidade), não obstante o acesso fácil aos produtos industrializados, produz artesanatos, peças e objetos que contribuem para responder a desafios surgidos no seu dia a dia, atendendo a suas necessidades imediatas e da comunidade em que vive. Produz vassouras, redes para dormir, canecas, panelas de barro, potes para reserva de água, gamelas, monjolos, tijolos, …, com a ajuda das mãos e de ferramentais simples e até mesmo improvisados.
Utiliza-se de materiais abundantes em seu meio,fibras vegetais, couro curtido ou cru, argila, além de matérias primas industrializadas. Não raro lança mão da reciclagem de materiais industrializados, de sucatas.
Tais peças se caracterizam por suas finalidades utilitárias, imediatas, atendendo às necessidades diárias das lides domésticas. Ainda que por vezes o artesão se esmere na forma, sua preocupação primeira é com a utilidade das peças. Estas, em seu conjunto, ainda que trabalhadas por mãos diferentes, conservam semelhanças entre si, traços identitários. Não têm a ver com os artesanatos de suvenirs ou os trabalhos manuais ensinados/ aprendidos através da mídia, de publicações especializadas ou dos programas sociais mantidos por órgãos públicos ou entidades.
Esta é a famosa louça preta do Jairê, em Iguape. Mais propriamente trabalho de D. Benedita. À frente de sua casa, como das outras duas paneleiras ficava sempre em exibição uma peça, a anunciar a produção ali exercida. Abaixo, panelas e cuscuzeiros enxugando à sombra, chamando atenção sua espessura.
Fotos:TM -1987
D. Benedita (Iguape)
É hoje a única artesã que detém o saber da chamada louça preta, no bairro do Jairé (baixo Ribeira- Iguape): panelas, cuscuzeiros e outros, de fina textura e impermeabilizadas com uma tintura obtida pelo cozimento da entrecasca do jacatirão.
Na edição 2012 do Revelando São Paulo – Vale do Ribeira, conseguimos trazê-la para compartilhar seu saber com outros artesãos, e constatar, mais uma vez sua excelência no trato com o barro. Agora está prevista uma residência com ela – compartilhamento acompanhado e mais delongado de seu saber – num esforço para que não se perca este patrimônio.
Abrão Machado de Lima (Itaoca – Alto ribeira)
Peças de Abrão Machado de Lima, discípulo de Sinhana de Itaoca, e declarado pela mesma seu herdeiro.
Somente nesta região do Ribeira (Itaoca e Apiaí) encontramos hoje estas moringas, com configurações que podem ser “rotuladas” como fálicas.
Ocorrência: Apiaí, Barra do Turvo, Cunha, Porto Ferreira, Iguape, Itaoca, Itapeva, Itararé, Guapiara, Ribeirão Grande, Riversul, Ubatuba.
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