Rápido diagnóstico do mundo contemporâneo

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Somos viventes e emergentes de um século marcado pela violência e por uma cultura da violência. As construções políticas e geopolíticas, comerciais e culturais do século XX, ao lado de muitas conquistas no campo da cidadania e do desenvolvimento tecnológico, passaram por processos bastante violentos. Se fizermos um breve retrospecto veremos um mundo palco de crimes sociais hediondos: a guerra de 1914-8 com seus milhões de mortos e utilização de gases venenosos; a guerra civil espanhola, em que o fascismo eliminou resistentes e população civil; a segunda guerra mundial com seus cinqüenta milhões de mortos e seus tristes campos de Dachau, Auschwitz, Treblinka; Hiroshima e Nagasaki, vingança exemplar da maior potência da história, com seus 200 mil mortos; a guerra do Vietnã, Laos, Cambodja, com cerca de 1 milhão de mortos; o resultado soturno das ditaduras do socialismo real e das genocidas ditaduras latino-americanas; segue-se o genocídio de Sabra e Chatila, a guerra do Iraque, Kosovo, e o massacre recente promovido pelo exército israelense nos campos de Jenin. Sem falar das guerras emancipatórias: revoluções russa, cubana, chinesa e contra o colonialismo na África e na Índia. Depois que quase tudo isso cessou, após 1945, ainda tivemos 150 guerras com 20 milhões de mortos.

O século XX foi, sem dúvida, um século de mortes. Com o final da guerra fria entramos num mundo tenso, complexo e inseguro marcado pela acumulação de armas químicas, biológicas, bacteriológicas, com a presença de estados terroristas modernos e tradicionais e a proliferação de grupos terroristas estatais e paramilitares.

Jamais poderemos esquecer que vivemos no cenário de uma guerra social sem precedentes na história da humanidade. A cúpula social de Copenhague traçou, em 1985, um quadro alarmante: “Mais de 1 bilhão de seres humanos vivem numa pobreza abjeta, passando a maior parte deles fome todos os dias. E mais de 120 milhões no desemprego e muito mais no subemprego”. A crise social expande-se pelo desenraizamento e despertencimento, fruto da imposição de modos de vida pela modernidade, materializados em sociedades que perderam, em grande parte, a moralidade, os valores éticos e espirituais. Hoje é possível diagnosticar uma fratura societária marcada pela exclusão social e cultural, a violência cotidiana e a degradação ambiental, que traz como resultado um estilo de vida individualista e consumista e a perda dos laços de solidariedade entre as pessoas e no interior das comunidades.

O Brasil, com seus indicadores de desenvolvimento humano já conhecidos, a fome de um quinto da população e 40 mil homicídios anuais, é mais do que um reflexo da cultura da violência no mundo contemporâneo.